Tragédia na PR-445: Onça-parda morre atropelada e alerta para proteção da fauna silvestre ganha força em Londrina.

Onça morre atropelada

Mortes de animais em rodovias da região aumentam e mobilizam autoridades e ambientalistas por mais segurança e conscientização no trânsito rural e urbano.

A imagem de uma onça-parda morta às margens da PR-445, no distrito da Warta, em Londrina (PR), na manhã desta quarta-feira (25), chocou moradores e evidenciou uma crise silenciosa: o crescente número de atropelamentos de animais silvestres na região.

 O felino, de grande porte, símbolo da fauna brasileira e espécie protegida por lei, foi mais uma vítima de um problema antigo, mas agravado pela expansão urbana desordenada e pelo descuido no tráfego em áreas próximas a matas e plantações.

A suspeita é de que o animal tenha sido atropelado ao tentar atravessar a rodovia, rodeada por plantações de milho — ambiente que costuma atrair a fauna silvestre em busca de alimento ou passagem. 

A morte da onça não foi um caso isolado: desde domingo (22), outros quatro animais silvestres foram encontrados mortos nas estradas que cruzam Londrina, conforme comunicado do Hospital Veterinário da Unifil. Entre as vítimas estão um macaco-prego, um quati, um gato-maracajá e um gambá. Os dados acenderam um alerta vermelho nas autoridades ambientais e entre os profissionais de saúde animal.

Um impacto que vai muito além do atropelamento.

A perda de uma onça-parda não é apenas uma tragédia individual. Trata-se de uma espécie-chave nos ecossistemas brasileiros. Ela ocupa o topo da cadeia alimentar e ajuda a manter o equilíbrio entre as populações de outras espécies. Sua presença saudável em determinada região é indicativa de que o ecossistema está em relativo equilíbrio.

O atropelamento de uma onça-parda representa um desequilíbrio em cadeia. Além da questão ambiental, o acidente oferece riscos também aos motoristas. Animais de médio e grande porte, como onças, capivaras e antas, podem provocar acidentes graves, inclusive com vítimas humanas. A colisão com esses bichos pode causar danos aos veículos e resultar em ferimentos sérios ou fatais aos ocupantes.

Região de riqueza natural e desafios ambientais.

Londrina, no interior do Paraná, possui áreas de mata nativa, fragmentos de floresta e regiões agrícolas em constante expansão. Essa geografia peculiar coloca a fauna silvestre em rota de colisão com as ações humanas. Os animais silvestres, como a onça-parda, têm seus habitats fragmentados ou destruídos pela agricultura e urbanização, sendo forçados a se deslocar por áreas abertas — como estradas — para procurar alimento ou abrigo.

Especialistas apontam que a falta de passagens de fauna, cercas protetoras, sinalizações adequadas e a velocidade excessiva dos veículos em rodovias próximas a áreas verdes são fatores determinantes para o aumento de atropelamentos.

O alerta do hospital veterinário da Unifil.

O Hospital Veterinário da Unifil, que acompanha casos de animais silvestres feridos ou mortos, emitiu um alerta na terça-feira (24), destacando o aumento preocupante dos atropelamentos nas estradas de Londrina. A instituição fez um apelo direto à população: mais atenção ao dirigir, especialmente em trechos próximos a matas, fazendas e áreas de vegetação preservada.

O hospital reforça que, para cada animal morto encontrado, há outros tantos que morrem sem serem registrados ou levados a instituições. O cenário é ainda mais grave se considerarmos que muitos motoristas não param para prestar auxílio, e os animais feridos podem agonizar por horas ou dias antes de morrer, em sofrimento extremo.

Ações imediatas da polícia ambiental.

O corpo da onça-parda foi recolhido pela Força Verde da Polícia Ambiental, responsável por proteger a fauna e flora do estado. O animal será encaminhado para análise, que poderá confirmar a causa da morte, avaliar seu estado de saúde e fornecer dados sobre sua idade, sexo e se havia sinais de reprodução recente — o que, se confirmado, agrava ainda mais o impacto ambiental.

A Polícia Ambiental destacou que a proteção da fauna é responsabilidade de todos, e que atropelar um animal silvestre e não comunicar as autoridades configura crime ambiental. Em alguns casos, dependendo da espécie, o motorista pode responder por infrações penais previstas na Lei de Crimes Ambientais.

O que pode ser feito: Soluções para reduzir atropelamentos.

Diante do aumento no número de acidentes com fauna silvestre, especialistas e ambientalistas sugerem uma série de medidas que podem e devem ser adotadas pelas autoridades municipais e estaduais, com apoio da população:

Instalação de passagens de fauna: Estruturas subterrâneas ou aéreas que permitem que os animais atravessem rodovias com segurança, reduzindo drasticamente os atropelamentos.

Cercas ecológicas e sinalização adequada: A instalação de cercas ao longo das rodovias força os animais a procurarem passagens seguras. A sinalização com alertas visuais e limitadores de velocidade em pontos críticos é essencial.

Campanhas educativas: Informar a população sobre a importância da preservação da fauna, os riscos de atropelamentos e como agir ao se deparar com animais nas pistas.

Monitoramento constante: Ações de monitoramento por câmeras e equipes ambientais em regiões de alto risco ajudam a prevenir acidentes e planejar melhor as intervenções.

Redução de velocidade: Estabelecer limites de velocidade menores em áreas de travessia de animais silvestres pode salvar vidas, tanto humanas quanto animais.

Um chamado à consciência coletiva.

A morte da onça-parda é simbólica. É o reflexo de um desequilíbrio crescente entre o avanço humano e o espaço da natureza. Enquanto o desenvolvimento urbano e rural avança, a fauna se vê encurralada, muitas vezes sem alternativas para sobreviver. É fundamental que os cidadãos, ao circularem por essas regiões, compreendam que compartilham o espaço com outras formas de vida — e que sua responsabilidade vai além do volante.

É preciso reconhecer que o cuidado com o meio ambiente não é tarefa apenas das autoridades. É um dever coletivo. O respeito à vida silvestre, o zelo pela biodiversidade e a adoção de comportamentos conscientes no trânsito rural e urbano são atitudes urgentes e inadiáveis.

Considerações finais.

O atropelamento da onça-parda na PR-445 é mais do que uma notícia triste: é um grito de socorro da natureza. A frequência com que esses episódios vêm ocorrendo em Londrina e em todo o Brasil exige ações firmes do poder público, da sociedade civil e dos motoristas.

É hora de transformar a dor da perda em mobilização. Que a imagem da onça caída na beira da estrada não se repita silenciosamente nas madrugadas da nossa região. Que a vida — em todas as suas formas — seja protegida, respeitada e preservada.

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